A nova Guerra Fria: o tabuleiro comercial entre EUA e China
A guerra comercial entre os paises ultrapassou a simples lógica das tarifas

A guerra comercial entre Estados Unidos e China ultrapassou a simples lógica das tarifas. O que se desenrola diante dos nossos olhos é um embate geopolítico de proporções históricas, que redesenha os contornos da economia global e ameaça minar a estabilidade dos mercados, alianças e cadeias produtivas.
Desde 2018, com o início das tarifas impostas pelo governo Trump sobre produtos chineses, - alegando práticas comerciais desleais e roubo de propriedade intelectual -, o conflito deixou de ser apenas econômico.
Tornou-se uma disputa por influência, por soberania tecnológica e, acima de tudo, por protagonismo global.
A China, com seu ambicioso projeto Made in China 2025 e o avanço tecnológico em áreas como inteligência artificial e telecomunicações, passou de “fábrica do mundo” para se tornar uma competidora direta da hegemonia americana.
A resposta dos EUA, ainda que justificada por preocupações reais, tem oscilado entre proteção e retaliação.
Do outro lado, Pequim responde com sua própria política de substituição de importações e investimento massivo em autossuficiência.
O problema é que, diferentemente da Guerra Fria do século XX, a interdependência entre os dois países é profunda.
As cadeias de suprimentos globais estão entrelaçadas de tal forma que uma ruptura brusca não interessa a nenhum dos lados, e muito menos ao resto do mundo. O Brasil, por exemplo, sente os efeitos indiretos no preço das commodities, na oscilação cambial e nas decisões de investimento estrangeiro.
É preciso reconhecer que esse embate não terá um vencedor claro. Pelo contrário, pode gerar perdedores múltiplos.
O risco maior é a fragmentação da ordem econômica internacional, com blocos comerciais mais fechados, desconfiança em relação à tecnologia e o ressurgimento de nacionalismos.
O caminho mais racional seria o fortalecimento de mecanismos multilaterais de arbitragem e o compromisso com regras mais transparentes e equitativas de comércio.
Mais do que escolher lados, os países em desenvolvimento devem apostar em diplomacia ativa, diversificação de parcerias e construção de autonomia tecnológica.
A guerra comercial entre EUA e China é um sinal de que o mundo multipolar chegou. Cabe agora a cada nação decidir se será apenas espectadora ou protagonista desse novo capítulo da história.
* Eduardo Batista é Doutorando em Teologia Pastoral pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Atualmente, é coordenador dos cursos de História e Sociologia da EAD UniCesumar
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