Saúde mental no trabalho e a nova realidade da vida laboral
A mudança na NR-1 prevê que as empresas combatam riscos psicossociais associados à organização do trabalho e às interações interpessoais

O Brasil vive uma crise de saúde mental, com impacto direto na vida de trabalhadores e de empresas.
Dados do Ministério da Previdência Social divulgados recentemente apontaram que, em 2024, quase meio milhão de afastamentos foram por causa de saúde mental, o maior número em pelo menos dez anos.
O levantamento vai de reunião à decisão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que promoveu atualização na Norma Regulamentadora 1 (NR-1), determinando que a avaliação de riscos psicossociais deve ser incluída no processo de gestão de segurança e saúde no trabalho.
As empresas precisam se adequar rapidamente, pois a mudança entrará em vigor a partir de 26 de maio.
A decisão do Ministério é um reflexo direto do aumento exponencial no número de casos de doenças relacionadas à saúde mental no ambiente de trabalho, tais como o Burnout, a ansiedade e a depressão.
Na prática, isso significa que os riscos associados à saúde mental devem ser identificados e gerenciados pelos funcionários, já que a avaliação de riscos psicossociais deve ser incluída no processo de gestão de segurança e saúde no trabalho.
Segundo Janaina Midori, professora do curso de Segurança do Trabalho da EAD UniCesumar, a partir dos dados de vigor, as organizações devem adequar sua documentação e, assim, realizar um diagnóstico dos ambientes de trabalho, observando a cultura organizacional e as áreas que exigem mais atenção.
Com isso, conforme ela, uma das principais mudanças ocorrerá no olhar das empresas, que precisará ser mais cuidadoso e atento para as pessoas e como está a rotina no dia a dia de trabalho, como elas estão na vida laboral e pessoal.
“Além, claro, de treinamentos sobre o assunto para todos da organização, promovemos uma capacitação para as lideranças em especial, programas de saúde e bem-estar e, principalmente, implantação de canais de suporte psicológico e prevenção ao assédio, bem como canais de denúncia em que não haja represálias ao trabalhador”, pontua.
Dentre os riscos mais comuns de hoje, estão os associados à organização do trabalho e às interações interpessoais, como metas e jornadas excessivas, assédio moral e falta de autonomia.
Ou seja, fatores que geram ambientes tóxicos e prejudicam a saúde mental dos trabalhadores.
Para Midori, as mudanças na normativa irão fazer com que as empresas se adequem e isso trará benefícios consideráveis, tanto para a própria organização quanto para os trabalhadores.
“O resultado traz ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis", disse.
NR-1
A NR-1 foi criada em 1978 e estabelece disposições gerais sobre o ambiente de trabalho e a gestão dos riscos ocupacionais.
A norma também fornece definições aplicáveis a outras Normas Regulamentadoras (NRs) do trabalho.
Com a divulgação das mudanças, o MTE informou que as fiscalizações serão feitas por meio de denúncias e que setores com alta incidência de adoecimento mental, como teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde, terão prioridade.
Os problemas são gerados pela combinação de fatores psicossociais e organizacionais, como:
- Pressão por resultados e metas inatingíveis: Uma cobrança excessiva para atingir metas irreais pode causar altos níveis de estresse e ansiedade nos colaboradores, com a sensação constante de se estar correndo contra o tempo ou de não atingir os objetivos propostos.
- Sobrecarga de trabalho: O acúmulo de tarefas e responsabilidades, especialmente quando associado a prazos apertados, pode resultar em exaustão física e emocional, com o desenvolvimento da síndrome de Burnout, por exemplo.
- Falta de suporte emocional: A ausência de uma rede de apoio emocional dentro da organização faz com que os trabalhadores não se sintam compreendidos, fator que pode levar ao agravamento de sintomas de ansiedade e depressão.
- Assédio moral e sexual: O assédio no ambiente de trabalho, seja verbal ou físico, é uma das principais causas de adoecimento mental. A exposição constante a comportamentos agressivos ou desrespeitosos gera insegurança, medo e desconforto.
- Insegurança e falta de reconhecimento: A incerteza quanto ao futuro da empresa e a falta de reconhecimento por parte da liderança podem criar um ambiente que contribui com o desgaste psicológico dos colaboradores.
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